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Tito Madi volta ao palco cercado de convidados

24th fevereiro 2015   ·   0 Comments

Ricardo Schott

Cantor, influência de Roberto Carlos e João Gilberto, lança disco nesta quinta

Tito tem saudade do violão e do teclado%3A “O AVC afetou minha mão esquerda”%2C diz

Tito tem saudade do violão e do teclado%3A “O AVC afetou minha mão esquerda”%2C diz

Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia

Rio – ‘Estou preso aqui desde 2008”, diz, com certa tristeza, o cantor e compositor Tito Madi, 85 anos, apontando para a cadeia de rodas que usa para se locomover em seu apartamento no Humaitá. O acidente vascular cerebral que teve na época fez com que perdesse os movimentos do lado esquerdo do corpo, além de parte da memória. Mas, apesar das limitações, está na ativa. Sobe pela primeira vez em quase dez anos num palco nesta quinta, na Sala Baden Powell, lançando o CD ‘Quero Dizer Que Eu Amo’, gravado em dupla com o pianista Gilson Peranzzetta.

Tito vai cantar pouco no show: apenas ‘Quero Dizer Que Eu Amo’ (na qual divide vocais com Gilson) e ‘Balanço Zona Sul’, que fecha a apresentação. Leny Andrade, Áurea Martins, Márcio Gomes, Valéria Lobão, Ana Maria Antoun e João Senise cantam com ele.

“Fiquei com sequelas na voz e confesso que ainda não estou pronto. Mas meu público é generoso”, diz, com humildade, o autor de ‘Chove Lá Fora’ (gravada por Milton Nascimento e Agostinho dos Santos) e ‘Balanço Zona Sul’ (por Wilson Simonal), com 25 álbuns na carreira. ‘Chove Lá Fora’, aliás, foi sucesso mundial: até Freddy Cole (irmão de Nat King Cole) e o grupo americano The Platters gravaram. “O empresário dos Platters me adorava. Quando eles vieram ao Brasil nos anos 60, recomendaram o Tom Jobim para ele, e ele respondeu (imita o sotaque): ‘No, no, prefiro Tito Madi’”, diz, rindo.

O disco novo foi gravado antes do AVC e deixado guardado. “O Tito ficou esquecido, mas está bem. Está se preparando bastante para o show”, conta Gilson Peranzzetta. “Até pelas limitações, as pessoas deixaram de falar dele, mas ele está recuperando o tempo perdido.”

No Humaitá, onde mora há três meses (após cinco décadas em Copacabana), Tito vive com uma cadela vira-lata e sob o tratamento de três cuidadoras. Recebe visitas dos filhos Carmen e Ricardo e de alguns amigos, como Peranzzetta e sua mulher, Eliana, que é sua produtora “e quase irmã”, como diz. Tem dificuldade de saber onde deixou certos objetos. “Às vezes, peço ajuda para São Longuinho. Mas fico devendo os pulinhos. Um dia dou”, brinca. Devagarzinho, reúne material para uma biografia, a ser escrita pelo jornalista George Patiño. Tem teclado e violão em casa, mas não mexe muito nos instrumentos.

“Fiquei com a mão esquerda, que é a da harmonização, parada. Tenho muitas músicas inéditas, gravadas em fitas cassete. Fiz músicas com Carlos Colla (letrista), mas esqueci das letras. Preciso falar com ele sobre isso”, revela. “Tenho saudade de quando eu tocava, de quando eu ia nos programas de televisão e de quando eu viajava. Me chamam sempre para ir a Conservatória, mas tenho medo de ficar sozinho no quarto de hotel.” Há muito não vê alguns dos músicos que influenciou, como Roberto Carlos, Milton Nascimento e João Gilberto — com este, protagonizou uma histórica briga física.

“Tenho uma cicatriz na cabeça por causa disso”, conta Tito, que levou de João um golpe com um violão na cabeça, em 1961, após uma discussão — e isso depois de tê-lo ajudado, hospedando o cantor em seu apartamento por seis meses. “Ficamos sem nos falar por décadas, até que, ao fazer um show no Rio em 2009, ele cantou ‘Chove Lá Fora’ e falou bem de mim no palco. Já o perdoei.”

De Roberto, ficou a promessa de um disco do Rei com repertório seu, até hoje não concretizada. “Gostaria que ele viesse ao show, mas hoje é bem difícil ter contato com ele. E com o Milton, que eu poderia ter lançado. Quando ele veio ao Rio pela primeira vez, nos anos 60, pedi a ele umas músicas para eu gravar, mas ele não mandou, não. Ele ainda era inédito”, recorda.

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