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Vem aí ‘Sorria, Você Está Sendo Filmado’, novo longa de Daniel Filho

14th maio 2015   ·   0 Comments

Carlos Brito

Filme explora questões como exposição e mudanças de comportamento

Rio – Há um cadáver no chão da sala de um apartamento em Copacabana. O homem acabou de tirar a própria vida colocando um revólver calibre 38 contra a cabeça e puxando o gatilho. Ao ouvir o estampido, os vizinhos arrombam a porta e constatam o fato. Ligam para a polícia — que vai demorar a chegar — e para o Serviço Médico de Urgência — que vai demorar mais ainda. Enquanto isso, comem, bebem, conversam sobre amenidades, exploraram suas relações pessoais e reclamam da vida sem dar maior importância ao corpo do recém-falecido, que durante todo o tempo permanece na sala. Eles não sabem, mas estão sendo filmados.

Juliano Cazarré, Susana Vieira, Lázaro Ramos, Thiago Rodrigues, Roberta Rodrigues, Otávio Augusto e Lúcio Mauro Filho na cena do velório improvisado para a webcam

Juliano Cazarré, Susana Vieira, Lázaro Ramos, Thiago Rodrigues, Roberta Rodrigues, Otávio Augusto e Lúcio Mauro Filho na cena do velório improvisado para a webcam

Foto: Divulgação

Este é o ponto de partida de ‘Sorria, Você Está Sendo Filmado’, novo longa do diretor Daniel Filho, que acaba de entrar no circuito. Inspirada na obra ‘Morte de um Homem nos Bálcãs’, do sérvio Miroslav Momcilovic, a comédia explora a reação de um grupo de pessoas que, de repente, se torna consciente da presença de uma câmera — como elas deixam de ser quem são para se tornarem outros indivíduos no momento em que descobrem que suas ações estão sendo registradas.

O roteiro do filme faz uma crítica ácida à superexposição e à mudança de comportamento. Afinal, todos passam a agir de forma diferente diante do morto quando percebem que estão sendo filmados. Para Susana Vieira, essa postura é normal. Na trama, ela vive uma atriz cuja carreira está em declínio, casada com o síndico do edifício onde ocorre o suicídio, que é interpretado por Otávio Augusto.
“É absolutamente normal que na vida real você seja uma coisa e passe a ser outra quando percebe que está sendo filmado. O que eu acho desagradável é ser observada sem saber que isso está acontecendo”, avalia a atriz.

A questão da exposição, levantada pela obra, é reforçada pelo alcance e força que as redes sociais conquistaram na última década. A necessidade de passar sempre uma impressão de normalidade e alegria por meio de fotos e vídeos chama a atenção de Lúcio Mauro Filho. “Acho que é uma espécie de defesa.

Em redes como o Facebook, por exemplo, muita gente quer transmitir uma imagem de felicidade constante. É como se elas não mostrassem o que são, mas o que gostariam de ser. Essa necessidade de dar uma satisfação me parece uma loucura”, analisa o ator, que no filme vive um agente funerário.

“Na década de 1970, as pessoas queriam ser. Na de 1980, queriam ter. Nos anos 1990, desejavam aparecer. Pelo que percebo hoje em dia, a meta é parecer”, reflete Lázaro Ramos. “Digo isso sem fazer qualquer tipo de julgamento, porque acho que é um traço dos dias que vivemos, mas toda essa cultura de selfies me faz pensar que muitas pessoas querem apenas parecer que são felizes e bem-sucedidas o tempo todo. Acho tudo isso muito curioso”, finaliza.

A produção chama a atenção por uma ousadia estilística: toda a trama é registrada por apenas uma câmera fixa, que simula uma webcam localizada sobre o computador que pertencia ao cadáver. Isso dá ao público a impressão de estar assistindo a um longo plano-sequência de 80 minutos, sem cortes — na verdade, eles existem, mas são discretos. A situação foi vista como um grande desafio para o elenco, que não podia errar as falas e as marcações. Caso isso acontecesse, o processo teria que ser reiniciado.

“Durante as filmagens houve muito cuidado para que nenhum de nós errássemos as marcações, porque íamos ficar todos juntos no mesmo enquadramento. Foi difícil, mas muito interessante porque tivemos que ser bastante disciplinados. O que mostrou que todos nós estávamos com a memória boa e que a gente guardava as instruções das pelo Daniel Filho”, explica Susana Vieira.

Completam o elenco Roberta Rodrigues, Juliano Cazarré e Thiago Rodrigues. Deborah Secco, Thiago Martins e Marcos Caruso também podem ser vistos na película, em participações breves.

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