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Tom Hanks vive estrangeiro em busca de simesmo em “Negócio das Arábias”

3rd agosto 2016   ·   0 Comments

Baseado no livro “Um Holograma para o Rei”, de Dave Eggers, filme fala das dificuldades de ser estrangeiro em um país tão peculiar como a Arábia Saudita. Produção estreia no Brasil nesta quinta-feira (4)

Há quem diga que somente um cineasta estrangeiro pode fazer um bom filme sobre o sentimento de inadequação de um estrangeiro em um país. O alemão Tom Tykwer já havia feito bons filmes nos EUA, como “Trama Internacional” (2006), mas “Negócio das Arábias”, uma coprodução entre França, Inglaterra, EUA e Alemanha, talvez seja seu grande momento como cineasta fora da Alemanha.

Tykwer volta a colaborar com Tom Hanks, a quem havia dirigido no bem intencionado, mas problemático “A Viagem” (2012), para contar a história de Alan (Hanks), um americano de Boston enfiado no deserto da Arábia Saudita. Alan chefia uma equipe de uma multinacional interessada em fechar negócio com o rei saudita. Para além da canseira que o governo saudita submete Alan e sua equipe, o filme registra todo o choque cultural vivenciado por Alan. Esse é, na superfície, o grande atrativo de “Negócio das Arábias”.

Tom Hanks está de volta aos cinemas no surpreendente 'Negócio das Arábias

Tom Hanks está de volta aos cinemas no surpreendente ‘Negócio das Arábias”, que estreia nesta quinta-feira (4)

Foto: Divulgação

O filme, porém, vai revelando suas camadas conforme a trama avança. Trata-se de uma comédia sofisticada, do tipo que revela personagens curiosos e agradáveis como Yousef (Alexander Black), um saudita espirituoso que gosta de música americana e que está interessado em uma mulher casada. Yousef é o motorista que leva Alan ao seu local de trabalho sempre que este perde a hora e consequentemente o ônibus. Além do jet lag e do choque cultural – bebidas alcoólicas são terminantemente proibidas no país – Alan ainda tem um caroço enorme nas costas, que teme ser um tumor maligno.

A interação de Alan com os personagens que cruzam seu caminho tornam “Negócio das Arábias” um filme com muito mais propósito do que se poderia imaginar. Da dinamarquesa que demonstra um interesse por ele, ao emissário do rei que lhe pergunta se há arrependimento de decisões executivas tomadas no passado, surge um painel interessante dos vícios de um mundo globalizado e dos impulsos humanos por conexão. Nesse contexto, o filme reserva seu comentário mais salutar na relação de Alan com sua médica.

Além de não falar o idioma local%2C o personagem de Hanks precisa fechar um negócio com o governo saudita

Há uma cena em que Alan cai da cadeira para surpresa geral de seus interlocutores e, espirituoso, faz uma citação ao filme “Lawrence da Arábia”. Ninguém pesca a referência e uma cena como essa, singela e aparentemente existente apenas para provocar efeito cômico, dialoga essencialmente com o desfecho do filme e com o que “Negócio das Arábias” pretende enquanto cinema: falar da solidão que nos acomete em determinada fase da vida, estejamos em outro país ou não. Estamos sempre sozinhos e ciosos de alguma conexão. É verdade que filmes mais taxativos já circundaram essa verdade, mas essa comédia aparentemente despretensiosa o faz com grande porção de charme e inteligência.

Hanks, presente em todas as cenas, volta a demonstrar toda a categoria como intérprete que dele se espera. Ainda que seja uma escolha tentadora (afinal, o que há de mais americano do que Tom Hanks na Arábia Saudita?), o ator dá a seu Alan alma e coração.

“Negócio das Arábias” não é um filme que suscite qualquer expectativa de prêmio. Não foi desenhado para isso, mas é mais empático do que muitas produções que chegam ao Oscar. No final das contas, este é o maior prêmio que um filme merece.

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