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‘O Silêncio do Céu’ parte de violência sexual para discutir relação conjugal

22nd setembro 2016   ·   0 Comments

Produção nacional foi rodada no Uruguai e é falada majoritariamente em espanhol. Carolina Dieckmann falou sobre tensa cena de estupro

O cinema nacional anda tão prolífero que faz até mesmo filme falado em espanhol. “Esse filme tem um tema muito forte e eu não vejo essa premissa em lugar nenhum”, observa o produtor Rodrigo Teixeira sobre “O Silêncio do Céu”, novo trabalho do cineasta Marco Dutra (“Quando Eu Era Vivo”), produzido pelo brasileiro que já virou referência no cinema indie atuando na produção de filmes como “A Bruxa” e “Frances Ha”.

Carolina Dieckmann em cena do filme

Carolina Dieckmann em cena do filme “O Silêncio do Céu”, que estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas brasileiros

Foto: Divulgação

O Silêncio do Céu” abre com uma demorada e tensa cena de estupro. Carolina Dieckmann só ficou sabendo que essa cena abriria o filme depois de ter topado participar da produção. Ela foi a primeira a entrar a bordo depois do diretor. “Muitas atrizes teriam reação diferente. Ela se manteve forte. Gravamos a cena na terceira e na quarta diárias de filmagem”, explica Teixeira na coletiva de imprensa realizada em São Paulo. “Eu estava apreensiva de fazer essa cena logo no início”, acrescenta Dieckmann. “Embora eu estivesse pelada, todos estavam expostos”.

Essa cena não foi o único obstáculo para a atriz, já que o filme é falado em espanhol e ambientado no Uruguai, Dieckmann teve que atuar em espanhol. “Foi muito difícil para mim porque eu sou uma atriz muito natural”, explica. “Eu tive que criar uma margem para mim no texto. O espanhol é mais cantado e Diana (a personagem que interpreta) não permite esse acento. Então foi um trabalho muito minucioso”. No filme, a atriz vive essa brasileira que está tentando reatar o casamento com Mario, vivido pelo argentino Leonardo Sbaraglia (“Relatos Selvagens”) e essa violência sexual da qual sua personagem é vítima, e que acidentalmente seu marido testemunha sem nada fazer, é o ponto de partida para a desconstrução dessa crise conjugal silenciosa que envolve Mario e Diana.

Sbaraglia, que se diz feliz de estar sendo apresentado ao público brasileiro, disse que o aspecto mais difícil de trabalhar em sua caracterização “foi justificar momento a momento o silêncio do personagem”. Dutra alimenta sua narrativa alternando os pontos de vista de Mario e Diana e “fala de como o silêncio sepulta uma relação”, advoga o ator argentino. Para ele, essa é a verdadeira tragédia dos personagens e representou o grande desafio para ele e para Dieckmann: “revelar o que não se podia falar”.

Os atores Carolina Dieckmann e Leonardo Sbaraglia em

Os atores Carolina Dieckmann e Leonardo Sbaraglia em “O Silêncio do Céu”, A crise conjugal potente, mas silenciosa

Foto: Divulgação

O que nos leva ao poético título do filme, uma oposição voraz à cena angustiante que lhe dá início. “O título se justifica no fim do livro e do filme, mas de forma completamente diferente”, observa Dutra. Curta-metragista festejado, o cineasta estreou na direção de longas-metragens ao lado de Juliana Rojas com “Trabalhar Cansa” (2011), premiado em Cannes, e deu sequência à carreira com “Quando Eu Era Vivo” (2014).

O cineasta Marco Dutra nas locações no Uruguai

É inegável, porém, que este é seu filme mais ambicioso e autoral. “É meu primeiro filme que eu não escrevo, mas tive muita liberdade para palpitar no roteiro. Rolou uma troca intensa”, contextualiza. Perguntado sobre a importância da alternância dos pontos de vista na narrativa, disse que essa alternância foi fundamental para contar a história. “Isso já tinha nas primeiras versões do roteiro, mas a gente lapidou mais. São dois personagens traumatizados com o mesmo evento, mas são traumas diferentes”.

Dutra reforçou, ainda, a importância dos signos e simbolismos em seu cinema, algo perceptível desde objetos de cena até a caracterização dos personagens. Tudo isso teve muito do input do cineasta. “Como eu via ‘O Silêncio do Céu’ como uma tragédia, eu queria uma coisa mais shakespeariana”.

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