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‘Rainha de Katwe’ conta extraordinária história real de empoderamento feminino

25th novembro 2016   ·   0 Comments

A história da campeã de xadrez Phiona Mutesi serviu de inspiração para um filme que foca na representatividade e na ambientação típica do local

Desde o enredo até o estilo da produção, “Rainha de Katwe” (“Queen of Katwe”, no original) não se parece em nada com outras produções da Disney, estúdio responsável pelo longa-metragem em parceria com a ESPN. Dirigido por Mira Nair, baseado no livro biográfico de Tim Crothers, “The Queen of Katwe: A Story of Life, Chess and One Extraordinary Girl’s Dream of Becoming a Grandmaster”, o filme conta a história da protagonista, Phiona Mutesi, uma jovem de uma região periférica da Uganda que, em pouco tempo, se torna campeã nacional de xadrez.

Phiona Mutesi (Madina Nalwanga) com sua mãe%2C Nakku Harriet (Lupita Nyong'o) em cena do filme da Disney

Phiona Mutesi (Madina Nalwanga) com sua mãe, Nakku Harriet (Lupita Nyong’o) em cena do filme da Disney

Foto: Divulgação/Disney

Elenco principal

Phiona Mutesi, a “Rainha de Katwe“, é interpretada por Madina Nalwanga que, assim como a personagem, é uma ugandense que vive em uma comunidade – e essa é sua primeira vez no cinema. Ao seu lado estão Lupita Nyong’o no papel de Nakku Harriet, a mãe viúva que luta todos os dias para, mesmo nas condições de pobreza em que vivem, trazer o melhor para seus filhos, e David Oyelowo, interpretando o treinador de Phiona, Robert Katende, responsável por abrir o caminho para que o sonho da jovem se concretizasse.

O elenco ser composto, basicamente, apenas por atores negros – e, principalmente, em papeis de destaque e que promovem a representatividade, com personagens bem construídos e que fogem de diversos estereótipos do cinema – representa um grande avanço na produção do filme. A tríade central de personagens – Phiona, Harriet e Robert –, além de serem todos negros, tem histórias fortes e batalham diariamente para não se deixarem engolir pela situação ao seu redor e atingirem seus objetivos.

Enredo

A narrativa de “Rainha de Katwe” é dividida em períodos de tempo, iniciando por 2007, ano em que Phiona descobre o xadrez através de seu irmão mais novo, Brian. Ele participa de um pequeno projeto na periferia de Katwe, onde ambos moram, liderado por Robert Katende, o “treinador” do grupo de crianças que frequenta o local. Mesmo que toda a comunidade seja pobre, Phiona é vista pelo outros como alguém no nível mais baixo da hierarquia social do local e, portanto, é humilhada quando chega à “escola” de xadrez. Ela, contudo, não desiste e se empenha em aprender as técnicas do esporte. Em pouco tempo, Phiona se mostra um prodígio na área e torna-se a motivação de Robert para levar a equipe de crianças cada vez mais longe.

Nas fases seguintes do filme, o dom da protagonista já é claro para todos e ela passa a participar de eventos e torneios. Sua mãe, Harriet, é resistente quando se trata de deixar a filha livre para crescer no esporte, porém a capacidade de Phiona é indiscutível e, assim, o treinador a convence – prometendo educação em troca – a deixar que a menina siga seu caminho.

A partir desse ponto a vida de Phiona apresenta uma enorme mudança – que acaba por trazer consequências negativas para ela e sua família. Após participar de um torneio no Sudão e experimentar a sensação de viver fora da periferia, longe da pobreza e da escassez de Katwe, a jovem se revolta com sua condição ao retornar para casa. Depois desse episódios e outros eventos ligados ao xadrez, Phiona passa a frequentar a escola, morar com o treinador e sua esposa e deixa sua família para trás para tentar agarrar seu sonho de se tornar mestra no esporte.

O talento de Phiona – que acaba por tornar-se um símbolo do sucesso em Katwe – é maior do que seu universo e, assim, ela busca novos limites e continua a crescer em ritmo acelerado, até o momento em que sofre uma derrota em uma disputa internacional e se encontra à beira da desistência. Contudo, ela supera o fato e volta a competir, quando, aos 14 anos, ganha o título de campeã de xadrez do País.

Metáfora do jogo

Robert Katende (David Oyelowo) é o treinador de Phiona Mutesi (Madina Nalwanga).

O título do filme faz referência não apenas à Phiona, que acaba por virar a “Rainha de Katwe”, por ser um exemplo e motivo de orgulho para todos os habitantes da comunidade, mas é, também, uma metáfora que faz um paralelo entre uma jogada no xadrez onde um peão – a peça mais fraca do jogo – após atravessar todo o tabuleiro torna-se uma rainha e a história de vida da jovem, que, após conquistar seu espaço no tabuleiro, passa da posição de peão para rainha do esporte em Uganda. O movimento do jogo é apresentado logo no início do filme a Phiona por uma colega. Ela, então, se encantada pelo jogo e passa a praticar cada vez mais. A jovem entende que o xadrez é uma forma de poder – como é visto no final do filme quando ela diz que “as peças são um exército” e, assim, pôde enxergar mais profundamente o significado disso para sua vida.

Representatividade

O empoderamento feminino é, certamente, um ponto que deve ser destacado no filme. Phiona, no início, se desculpa por suas vitórias e sente-se culpada por estar conquistando seu próprio espaço – seu próprio sucesso. Ela chega a se questionar sobre sua posição quando vence o melhor aluno do King’s College, local onde participou do primeiro torneiro de xadrez de sua carreira. Ao longo do tempo a personagem ganha confiança e passa a acreditar mais em si mesma, podendo, assim, se concentrar em desenvolver suas habilidades. O momento em que ela ganha o título de “melhor entre os meninos” é uma forma sutil de mostrar para o público que as qualidades de Phiona vão além das limitações de gênero.

Nakku Harriet, embora em outra esfera, também é um exemplo de luta feminina. Mesmo sem a presença masculina, pois é viúva, Harriet faz tudo que está ao seu alcance para apoiar sua família da forma que está ao seu alcance. Ela, por diversas vezes, se sacrifica em nome do bem estar dos filhos, provando a força que uma mulher pode ter mesmo quando o ambiente não lhe é favorável.

A vida real

“Rainha de Katwe” é, como dito anteriormente, baseado na vida da atleta Phiona Mutesi – que, inclusive, acompanhou parte da produção do longa. Os créditos do filme guardam uma surpresa para o espectador – não são apenas nomes rolando na tela, mas os atores ficam lado a lado com as pessoas reais que os inspiraram e o destino de cada um dos envolvidos na vida da protagonista é revelado, como, por exemplo, o futuro de sua mãe e seus irmãos.

Phiona terminou seus estudos e continuou a competir, colecionando títulos no esporte e ganhando destaque internacional. Hoje, a “Rainha de Katwe” tem apenas 20 anos e já entrou para a história da Uganda pelas suas conquistas no xadrez.

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